A força da parceria

por Edson Dantas

Vi uma charge onde o cartunista procurava demonstrar a mudança de atitude dos pais em relação ao desempenho escolar de seu filho. A primeira imagem mostrava os pais cobrando e responsabilizando o filho pelo resultado obtido na escola; a segunda imagem mostrava os pais cobrando e responsabilizando o professor pelo resultado de seu filho. Duas atitudes bem diferentes e equivocadas: enquanto a primeira “joga” toda responsabilidade no aluno, a segunda responsabiliza o professor. Mas, afinal de contas, de quem é a responsabilidade?

Não temos como fugir da realidade que, em nosso sistema escolar, o resultado final do aluno é contabilizado pelas notas obtidas durante o ano. Essa é a métrica. Precisamos dar conta, com competência, desse enunciado. Vamos encarar os fatos. Temos que envidar todos os esforços para mudar a cultura de se estudar para tirar boas notas e passar de ano, para uma cultura da aprendizagem. Quem aprende, tira notas boas e passa de ano; quem estuda apenas pelas notas, logo após a prova esquece do que estudou. Mas, sempre tem um porém: a aprendizagem não é um processo simples.

Para alcançarmos o nosso objetivo, que é a aprendizagem, devemos iniciar com a sua definição. Minha professora, no Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia do CEPAI, Profa. Dra. Teuman de Marillac Alves Fonseca Maia, definiu aprendizagem como um processo BIOPSICOSOCIOCULTURAL, ou seja, a aprendizagem envolve os aspectos biológicos, psíquicos, sociais e culturais do aluno. Para que a aprendizagem aconteça, esses fatores precisam estar em equilíbrio e devem ser levados em consideração no processo educativo. Note bem: para que a aprendizagem aconteça, esses fatores precisam estar em equilíbrio. Esperar que esse equilíbrio seja de responsabilidade exclusiva do aluno ou do professor é ignorar como se processa a aprendizagem.

Somando-se a tudo isso vivemos em momento de pandemia, temos mais um fator complicador para a construção da aprendizagem. Aulas remotas e, em algumas cidades, aulas híbridas, onde alguns problemas de ordem tecnológicas acentuam os desafios com a aprendizagem. O que fazer? Com ou sem pandemia, o caminho é a PARCERIA. O que todos desejam é que o aluno seja bem-sucedido como estudante, mas, para isso, todos precisam se envolver ao dividir as responsabilidades. A parceria precisa ser firmada e consciente entre família e escola.

Cortella (2014, p. 94) afirma que é preciso que se faça uma parceria entre as famílias e a escola, seja pública ou privada, e sugere que se organizem encontros de pais e professores. Afirma, ainda, que não deve ser discutida apenas a disciplina de conduta, mas também a disciplina de estudo.

Castro (2014, p. 61), afirma:

Mais dois fatores apresentaram um impacto brutal nos resultados. O primeiro é a atitude dos pais com respeito ao dever de casa. Quando os pais sistematicamente verificam se os filhos estão fazendo a lição, o rendimento escolar é muito maior. Não é preciso fazer o dever do filho, nem mesmo ajudar. O que faz a diferença é o acompanhamento próximo, levando o filho a dedicar mais tempo aos estudos.

O segundo fator é a frequência de diálogo entre pais e filhos. Pais e mães que dedicam tempo para conversar com os filhos recebem no fim do mês, boletins com notas bem mais altas. A atenção pessoal, a presença e a interação diferenciam resultados medíocres de resultados excepcionais. Não precisa ser conversa sobre escola; basta ao filho ter a presença próxima e a interação com os pais.

Percebemos claramente a importância da parceria escola-família para o bom desempenho escolar. Cortella (2014, p. 94), corrobora com o resultado da pesquisa ao afirmar que se os pais dedicarem 15 minutos do dia para checar se o filho fez a tarefa, eles darão uma grande contribuição. Sabemos que a responsabilidade da escolarização é da escola e a educação é da família, conforme esse mesmo autor, mas, o maior interessando na aprendizagem é a família, que investe dinheiro, tempo e energia, e o maior interessado na educação é a sociedade, que precisa de cidadãos capazes de melhorá-la a cada dia. Cabe à escola o papel de escolarizar com o apoio da família; cabe à família o papel de educar com o apoio da escola. Tanto a escolarização quanto a educação são um processo que requer um esforço coletivo.

Edson Dantas é teólogo e pós-graduando em Gestão Escolar (USP) e em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (PUCRS). Atuou como Diretor Geral do Colégio Presbiteriano Quinze de Novembro, Diretor Geral do Instituto Bíblico do Norte e, desde 2010, atua como Diretor do Colégio Presbiteriano Agnes Erskine, em Recife (PE).