Como cobrar mensalidades em tempos de pandemia

Vivemos momentos de incerteza, dificuldades financeiras, desemprego e perda de renda, principalmente por parte de profissionais autônomos que, de repente, constataram que a procura por seus serviços tornou-se escassa a cada dia, sem perspectivas de retorno à normalidade antes vivida.

Em virtude desse cenário, tem sido recorrente a pergunta que me fazem: se devem cobrar os créditos oriundos de mensalidades escolares. Afinal, não seria falta de sensibilidade saber que estamos no meio de uma crise econômico-financeira e cobrar do devedor os recebíveis da instituição de ensino?

Digo-lhes com toda a convicção que não é falta de sensibilidade. Pelo contrário, é exatamente o oposto. Há muito tempo defendo que a cobrança escolar não deve ter caráter punitivo, nem ser fator de aborrecimento. A abordagem de cobrança deve ter um caráter social. Contatamos o pai do aluno para saber como podemos ajudar a resolver o problema da inadimplência e dar continuidade ao curso em questão, o que certamente será um diferencial na vida deste aluno, esteja ele no ensino básico ou superior.

Sabemos muito bem que a inadimplência é um fator de evasão bastante representativo, por isso, nosso contato com o devedor se faz necessário, não somente para não perder o aluno, mas também para contribuir com o nosso apoio econômico-financeiro, social e psicológico para que esse cidadão não faça parte da triste estatística já conhecida por nós, dizendo que, de cada cem pessoas que começam o ensino superior privado, somente 42 se formam. Exatos 58% desistem por diversos motivos e a inadimplência é um deles. Dar esse apoio diretamente ao aluno ou ao pai responsável pela educação de seu filho demonstra nossa sensibilidade e nosso compromisso com a missão de educar.

Pelas razões citadas recomendamos que, nessa época de pandemia, as escolas intensifiquem o contato com seus alunos ou seus responsáveis financeiros, como forma de demonstrar preocupação com o futuro deles. Nesse momento de dificuldades, transforme essas dificuldades em oportunidades para estar presentes, fazendo esse contato com o intuito de ajudar a atravessar esse momento de crise.

Um outro motivo forte para manter o contato de cobrança é que há sempre aqueles que não tiveram redução de renda, nem perderam o emprego, mas veem na crise uma oportunidade para tirar vantagens, solicitando descontos, alegando alteração da modalidade de ensino presencial para o ensino a distância, devido às dificuldades financeiras etc.. Na verdade, precisamos ficar atentos a esses oportunistas que, infelizmente, existem. Entretanto, uma meia dúzia de perguntas são suficientes para se detectar de que se trata de alguém que quer se aproveitar desse momento de crise.

Portanto, nesses tempos de pandemia, faça da dificuldade uma oportunidade para estar presente no relacionamento com seus alunos ou responsáveis financeiros, no sentido de cumprir sua missão de educar e de despertar nos seus alunos e responsáveis financeiros o sentido de pertencimento. Essa é uma oportunidade única e, aquele que tem o apoio da instituição de ensino, jamais se esquecerá dela.

Argemiro Severiano Silva é Diretor Financeiro na Associação Santa Marcelina (imagem: Visual Hunt)