Entendendo os diferentes modelos parentais

por Edson Dantas

No artigo anterior, intitulado “A força da parceria”, tivemos a oportunidade de falar sobre a necessidade de uma parceria entre escola e família.

Santrock (2009, p. 76 ), ao apresentar os contextos sociais de desenvolvimento, família, pares e escola, expõe a teoria de Bronfenbrenner, que afirma que os contextos sociais nos quais as crianças vivem são influências importantes sobre o seu desenvolvimento. Um destes contextos é o estilo parental. Ele é fundamental para o sucesso ou o fracasso escolar. Baumrind propôs um modelo de classificação dos pais com quatro protótipos de controle:

  • Parental Negligente
  • Parental Indulgente
  • Parental Autoritário
  • Parental Autoritativo

Pais Negligentes não são exigentes e nem responsivos. Eles não se envolvem na vida de seus filhos, tentam se comportar de maneira não punitiva e receptiva diante do desejos e ações da criança; apresentam-se para ela como um recurso para a realização de seus desejos e não como um modelo, nem como um agente responsável por moldar ou direcionar seu comportamento. Não se envolvem com o seu papel enquanto pais.

Pais Indulgentes são responsivos e não exigentes. É um estilo de criação no qual os pais estão altamente envolvidos com os seus filhos, mas impõem alguns limites ou restrições em seus comportamentos. Esses pais sempre deixam seus filhos fazerem o que quiserem e à maneira deles, porque acreditam que a combinação de suporte educativo e a falta de limitações fará com que a criança se torne confiante e criativa.

Pais Autoritários são restritivos e punitivos. Eles modelam, controlam e avaliam o comportamento da criança, de acordo com regras e condutas estabelecidas e normalmente absolutas. Eles estimam a obediência como uma virtude e são a favor de medidas punitivas para lidar com aspectos da criança que entram em conflito com o que eles pensam ser correto. São exigentes e não responsivos, ou seja, as exigências deles estão em desequilíbrio com a aceitação das exigências dos filhos, dos quais se espera que inibam seus pedidos e demandas.

Pais Autoritativos tentam direcionar as atividades de suas crianças de maneira racional e orientada; incentivam o diálogo, compartilhando com a criança o raciocínio por detrás da forma como eles agem. Exercem firme controle nos pontos de divergência, colocando sua perspectiva de adulto, sem restringir a criança, reconhecendo que esta possui interesses próprios e maneiras particulares. Eles não baseiam suas decisões em consensos ou no desejo da criança. São exigentes e responsivos.

Pesquisas mostram que os adolescentes que perceberam seus pais como autoritativos tiveram mais aspectos positivos de desenvolvimento (alto índice de competência psicológica e baixo índice de disfunção comportamental e psicológica). Esses adolescentes também foram associados a notas altas, melhor desempenho nos estudos, uso de estratégias adaptativas e maior grau de otimismo. Maior assertividade, maior maturidade, conduta independente e empreendedora e maior responsabilidade social. Eles são vistos como socialmente e instrumentalmente mais competentes dos que os filhos de pais não autoritativos.

O estilo autoritário, em geral, apresenta filhos com comportamento de externalização (agressão verbal ou física, destruição de objetos, mentiras) e de internalização (retração social, depressão, ansiedade). Nesse caso, os adolescentes tendem para um desempenho escolar moderado, sem problemas de comportamento. Porém, possuem pouca habilidade social, baixa auto-estima e alto índice de depressão.

No estilo Negligente, as crianças desenvolvem a sensação de que outros aspectos das vidas de seus pais são mais importantes do que elas. Quase sempre se comportam de maneira socialmente incompetente. Tendem a ter um fraco auto controle, não lidam bem com a independência e não são motivadas a ser bem sucedidas. As crianças possuem o menor desempenho em todos os domínios. Possuem baixo rendimento escolar, sintomas depressivos e baixa auto-estima. Podem ter um desenvolvimento atrasado, problemas afetivos e comportamentais, e possuem maior índice de estresse.

No estilo Indulgente, as crianças geralmente não aprendem seu próprio comportamento. Esses pais não levam em consideração o desenvolvimento integral da criança. Observou-se baixa capacidade de auto-regulação e baixa habilidade de reação a conflitos.

Os resultados da pesquisa acima descritos evidenciam a importância da participação e contribuição da família no processo ensino-aprendizagem, minimizando importantes prejuízos na autoestima infantil, dificilmente recuperáveis e que tem importantes repercussões no desenvolvimento pessoal. Nesta perspectiva, quando a criança não é devidamente considerada em sua singularidade e adequadamente tratada por seus pais e professores, os problemas se multiplicam e se aprofundam em todos os aspectos do desenvolvimento pessoal, assim como comprometem sua aceitação e participação social.

Maluf (2013), em seu artigo “Dificuldades no Aprender” , refere que as dificuldades de aprendizagem não se devem necessariamente a fatores orgânicos, e que são, por isso, mais facilmente removíveis. Ela ocorre também como resultado de situações negativas de interação social.

A autora refere, ainda, que a dificuldade de aprendizagem se deve em geral a uma multiplicidade de fatores. São exemplos dessas situações: as perturbações emocionais derivadas de mudanças, perdas na vida da criança ou de seus familiares, desorganização na rotina familiar, excesso de atividades extracurriculares, pais muito ou pouco exigentes, envolvimento com álcool e drogas, situações escolares de inadequação metodológica ou situações de bulliyng.

Percebemos o quanto é importante o caminho da parceria. Esse também é um princípio bíblico. Lemos em Eclesiastes 4:9-12: “ Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa” .

 

Edson Dantas é teólogo e pós-graduando em Gestão Escolar (USP) e em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (PUCRS). Atuou como Diretor Geral do Colégio Presbiteriano Quinze de Novembro, Diretor Geral do Instituto Bíblico do Norte e, desde 2010, atua como Diretor do Colégio Presbiteriano Agnes Erskine, em Recife (PE).

 

Referências:

CASTRO, Claudio de Moura. Os tortuosos caminhos da educação brasileira. Porto Alegre: Penso, 2014.

CORTELLA, Mario Sergio. Educação, Escola e Docência. São Paulo: Cortez, 2014.

DELL’ISOLA, Alberto. Mentes Geniais. 2. ed. São Paulo: Universo dos Libros, 2013.

GAUTHIR. Clermont. – TARDIF. Maurice. Pedagogia. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

GAUTHIR. Clermont. – BISSONNETTE. Steve. - RICHARD. Mario. Ensino Explícito e Desempenho dos Alunos. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

MALUF, Maria Irene. Dificuldades no aprender. (Editorial). Psique, Ano VII n 85. p. xxi, jan., 2013.

SANTROCK, John W. Psicologia Educacional. 3ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009.