Pais e alunos: expectativas, experiências e sonhos
Os repetidos casos de evasão e a falta de continuidade do aluno em instituições escolares nos levam a refletir sobre os aspectos que determinam a insatisfação ou a satisfação e permanência do aluno. Contudo, outros fatores que são ímpares para a satisfação de pais e alunos são as expectativas, as experiências e os sonhos.
Por Rogério Moreira Scheidegger
Em um artigo que publiquei na Revista Linha Direta, intitulado “Três Elementos Fundamentais na Retenção de Alunos”, apresentei o pertencimento, o engajamento e o sucesso como sendo elementos, que numa perspectiva institucional e do aluno, podem ajudar a melhorar o processo de continuidade do aluno na instituição. Neste artigo, gostaria de trabalhar outros três elementos importantes a esse processo, que são as expectativas, as experiências e os sonhos.
AS EXPECTATIVAS
É comum as crianças e os adolescentes terem fortes expectativas quando iniciam um ano novo ou trocam de escola. Há expectativas em relação aos novos colegas e professores e isso é algo que marca muito a vida dos alunos.
Já os adultos, ou seja, os pais, podem ter expectativas mais exigentes do que as crianças e os adolescentes em relação à estrutura e ao ensino de uma instituição.
As expectativas dos alunos e dos pais, quando bem atendidas, podem se revelar um efeito poderoso no desenvolvimento acadêmico. Ao contrário, quando as expectativas do ingressante não são atendidas, a tendência é de frustração. Por isso, a escola deve estar atenta em atender as expectativas dos alunos e dos pais.
Neste sentido, é importante fazer as seguintes considerações:
– A escola deve tomar cuidado com a sua comunicação em relação ao que promete aos seus futuros clientes. A instituição não deve prometer o que não pode cumprir, pois isso irá gerar falsas expectativas.
– As expectativas são altamente subjetivas, o que pode levar alguns alunos e pais a terem expectativas além do que a sua instituição pode oferecer.
Esses pontos demonstram que a escola deve ser transparente ao apresentar aquilo que oferece ao aluno, para que as expectativas sejam de acordo com o que aluno irá encontrar.
As expectativas dos estudantes são criadas antes deles ingressarem na escola e são atendidas, ou não, principalmente nas primeiras semanas após o ingresso. Esse tempo de atendimento das expectativas acontece no período de integração do aluno na instituição. Por isso, há uma relação de tempo entre atendimento das expectativas e o processo de pertencimento dos alunos.
A escola tem que ter consciência desses acontecimentos para que saiba como trabalhar com o aluno, de forma que ele tenha as suas expectativas satisfeitas e se sinta integrado ao processo acadêmico e social.
Se a instituição estiver bem focada no desenvolvimento do aluno, o processo de expectativas irá se estender para além do período de ingresso, pois os alunos e pais poderão criar novas expectativas, a partir das experiências significativas que eles tiverem com a instituição.
AS EXPERIÊNCIAS
O período de experiências inicia no ingresso do aluno na instituição e irá se confundir com o tempo de atendimento das expectativas, mas é um processo que dura o tempo que o aluno estiver na escola. As experiências positivas do aluno na instituição reforçam as suas expectativas, tanto no cumprimento das expectativas anteriores, quanto na criação de novas.
A questão de satisfação dos alunos e pais está relacionada também à sua experiência dentro da escola. Uma vivência pedagógica ou social ruim pode ser fator de insatisfação. Por outro lado, se for significativa, tende a levar o aluno e pais a um engajamento maior com a escola.
As experiências do aluno na escola são divididas nas que ocorrem dentro da sala de aula e fora da sala de aula. O que acontece dentro da sala de aula pode ser significativo para o aluno e isso passa pela forma como a instituição planeja e acompanha o processo de aprendizagem.
O representante institucional dentro da sala de aula é o professor, mas depende da instituição a elaboração do projeto do curso, a definição do modelo pedagógico e o acompanhamento do professor em relação à sua preparação didática, ao seu planejamento, ao que será ministrado em sala de aula e ao seu relacionamento com os alunos.
Como o aluno passa a maior parte do seu tempo de escola dentro da sala de aula, o que acontece ali tem que ser bem monitorado pela escola, para que o aluno tenha as experiências significativas que marquem o seu desenvolvimento pedagógico.
O outro ambiente de vivências para o aluno é o que acontece fora da sala de aula. Este ponto depende mais ainda do planejamento institucional em relação aos esportes, visitas de campo, projetos, intercâmbios, eventos e tudo o que a escola pode promover para surpreender o aluno em termos de experiências fora do ambiente de sala de aula.
Cabe ressaltar, também, que é tarefa da escola ficar atenta quanto às relações sociais do aluno dentro da instituição. A falta de relações ou problemas de relacionamento pode levar o aluno desgostar do ambiente escolar. Portanto, esta é outra questão que deve ser vista como importante pela instituição e evitada por meio de promoção de eventos sociais, acompanhamento do aluno e treinamento e monitoramento de funcionários e professores quanto ao relacionamento com eles.
A escola também deve estar atenta às experiências dos pais, ao tipo de atendimento que é prestado, à comunicação, aos eventos específicos, à atenção que é proporcionada aos filhos e à qualidade do ensino.
OS SONHOS
Os sonhos dos pais e dos alunos têm ligação com o seu processo de alcançar o sucesso: ingressar na faculdade e ter um bom desempenho futuro na carreira – coisas que se colhem devido à dedicação nos estudos.
Quando a criança ou o adolescente ingressa na escola, ele sonha com os relacionamentos, com atividades, com o seu material. Ele e os pais sonham com o bom desempenho e sucesso.
A não ser no caso de escolhas por motivos financeiros, os pais escolhem a escola pensando no sucesso futuro do seu filho. Portanto, existe uma relação muito forte entre os sonhos dos alunos e dos pais e o sucesso acadêmico e profissional dos alunos alcançados no futuro.
A escola deve estar atenta àqueles detalhes que os alunos sonham e àquilo que pode levar o aluno a ser bem sucedido acadêmica e profissionalmente.
A falta de sucesso nos estudos, no ENEM e na carreira profissional pode ser a frustração daquele sonho tão sonhado. A instituição deve, então, trabalhar a qualidade de ensino e desenvolver projetos que levem os seus alunos a alcançar os seus resultados.
As expectativas se transformam em experiências e os sonhos se transformam em realidade. Isso faz parte da vida escolar do aluno, e as instituições, sob essa ótica, devem prestar mais atenção na situação de cada um. Desta forma, as escolas terão mais condições de enxergar as dificuldades e desafios que passam o seu aluno, para ajudá-lo a sonhar e vencer, ingressar e permanecer.
Rogério Moreira Scheidegger é especialista em gestão escolar, mestre em Administração e diretor da Prospecta.